terça-feira, 30 de setembro de 2008

Carta a uma amiga de asas



Eu também lamento e sinto falta.

Passaram-se algumas horas desde que li teu e-mail, tu esta criatura que insiste tanto em mim e ainda não descobri o porquê sente vergonha, ou timidez, ou espanto de sentir o que sente e dizer o que é isto para mim. Afinal, as palavras poderiam sair da minha boca, quase todas tão perfeitas e exatas como as tuas, ainda escritas numa fala aflita.

Adiei meu futuro. Primeiramente, porque não sentia, sequer, a coragem de ir em frente, de acreditar mim. – Estas coisas do passado que são necessárias eliminar: é preciso chão para se saber onde pisar, para que se ande é necessário terra: no ar apenas se flutua.

Pare de pensar. Não abandonei o futuro: coloquei rédeas. Ou ainda, a respeito dos outros, antepôs-se a pergunta: como crescer sob o anteparo da buba?! Sob membranas não se cresce, se esconde, e eu quero crescer de pouco a muito a olhos vistos.

É certo que, também, tive de responder, e com resposta imediata, uma urgência que não era minha, a não ser pelo motivo de viver em família. São pressões que antecedem “minha faculdade”, e que absolutamente não seriam afastadas conhecida a promessa de um “garoto brilhante”. A realidade não funciona como a antevemos diante de nós. Mais tarde, ouvi de quem me empurrava: e quanto aquele sonho?!

Ah! os sonhos tem pressa, mas não são infantis como o vaivém dos balanços e das gangorras! O sonhos, e aprendi sendo teu bolsista, são como peões, rodam sobre um único eixo. Quer queiramos, quer não o observemos, eles retornam a nós como dádiva.

Talvez só minha avó entendeu o risco que corria, e que eu sabia que corria e, talvez por ela, eu me sinta triste. – Dizia mais ou menos ela: de que adianta olhar para o agora sem saber o que seremos depois? – Olhei, vislumbrei o futuro, e como o lobo que desiste da meta, rodei o rabo e voltei para minhas feridas.

Eu preciso de mim antes que eu seja sonho, e também posso dizer que tenho meus amigos para me puxarem as orelhas já tão avantajadas. Hoje, estou tranqüilo, mas tranqüilo com o quê eu não saberia te responder, talvez sereno ao pensar que sou capaz de realizar coisas inatingíveis. Talvez feliz apenas com o presente.

Carta a minha amiga de asas, Márcia Vidal.
30 de setembro de 2008.