segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Sofrimento


Dorme a noite incólome por detrás do riso. Ressentido e descrente de tudo que enxergo, se é que enxergo, se é que me pertence, caminho adiante até os calcanhares das noites de vales escuros; fortemente sensibilizado com o som e o sono de minha própria voz. Estou sozinho com a escuridão que se preenche envolta num cobertor de frio. Migro, inerte de tanta dor, para dentro deste ar pesado que se encontra no vácuo, sem haver esquiva. - A noite, esta cega pusilâmine, se preenche e se esvazia por si só, todos os dias. Que há mais a frente?

Surge, mais uma vez, o velho de rugas que reconheço de pronto. Sou eu ali ao lado. Será que pretendo mesmo ser? Já me conheço e nunca me esqueço. Sinto, apenas, a compaixão do monge cego na caverna e ofereço o pescoço como reconpensa; sem o regurgirtar solapos do medo. Tudo me preenche e tudo me esvazia: não há canais para mais adiante ou num compassado tempo.

Pertenço à morte, e aquela damizela, que oferece os orifícios aos desavizados, de trapos limpos e muito antes tocados, me pertence. Ela bebe, num crânio vazado por foramens, ao meu sofrimento. Quem quiser se envaidecer com este lirismo decotado, que se entregue aos beijos lacivos de uma serpente e silencie meus gritos mudos;certamente há de encontrá-los. Aos tolos, digo apenas que não será qualquer vale sombrio que trará convulsões ao silêncio.