É uma terra gentil, sem modéstia. Tem o ar fresco e puro no descanso confortável das oliveiras abraçando todo aquele que chega. À tardinha, durmo bem no sombreado vespertino das olivas enquanto meu cão atento vigia. Acordo chegado o terceiro latido companheiro e sigo para o mercado em missão de trabalhar.
Conheço quase todo o homem que por lá habita ou constrói. Há os ricos que freqüentam estas terras por temporada, os que se enclausuram nas próprias fortalezas e também há os gentios, feito eu. Nós que cultivamos a terra desde os primeiros olhares da matina dormimos à noite sobre o chão de terra batido e folhagens da mesma forma selvagem como os animais dormem.
Sei da obra grandiosa dos castelos, embora nunca tenha vivido num deles. Minha alma é pequena-verde como os intermináveis campos e eu sou simples. Sei das torres em colunas tão difíceis de alcançar e as temo porque prefiro estar do lado de cá, na companhia dos ladrões, do que negociar preços com os padrecos.
Não sou como os dois: não busco invadir o portão da frente, não quero alcançar o que há para além do fosso. Estamos bem, eu e o homem que se julga rico: ele mora lá com sua gente loiras e eu vivo cá no campo que cultivo. Por vezes, ele desce à minha terra e traz consigo os filhos, chama isso de "pedagogia". Eu, que não entendo palavras difíceis, ceivo o grão que ele me quer comprar.
Durmo cedo para cedo acordar e ao amanhecer abro a minha uma só janela e uma só porta firmemente, deixo o calor Sol entrar. Qualquer dia desses o sábio de jóias voltará para falar de viagens à terras distantes e gente inigualável. Eu e o meu cão ouviremos atentamente assustados sem jamais pensarmos em partir, porque nós pertencemos a esta terra sem ela jamais nos pertençer.
Carta escrita à Juliana Diógenes