sexta-feira, 22 de junho de 2007
Lírica Dispersa
É estranho que diga tantas coisas que se aglutinem formando uma densa camada sobre o meu precipitar de pensamentos desta semana.
Na verdade, como você mesma disse, este é um sonho de fora para dentro (como querendo me encontrar na sala de visitas) e de dentro para fora (como querendo demonstrar para mim que, apesar de tudo que pareço, ainda Sonho).
Durante muito tempo, mais na verdade quando iniciei o Coisas de Sonho, imaginei que seria uma história de amor daquelas que há uma provação para que os dois, enfim, atinjam o infinito, etc.
Comecei a escrevê-lo apaixonado por uma pessoa que namorei, e não era ela essa tal fada, se bem que já penso em transformá-la em nereida, e também não senti que a história falasse de mim, mas por mim. É estranho quando vem essa sensação, não é?! De estar concebendo uma dimensão única e que não te pertence de forma alguma.
Nesta semana, ao ver uma gravura sobre Pâ descobri, pela primeira vez, que esta é uma história que fala de mim e morri de medo de não levar o plano de completar os doze sonhos! (Aquele medo de como quem tem um insigt e acredita que já viu tudo). Descobri que o Fauno era o meu pai e que eu estava saindo de meu sofrimento tentando libertar meu Sonho em forma de fada. Ou seja, a história é pelo menos duas vezes minha – sou quase que dois personagens.
Conseguiu entender? Acho que está disperso demais como sempre, mas sei que você consegue.
Durante muito tempo eu pareci muito confuso com relação ao meu pai, talvez poucas pessoas eu tenha chegado a falar pausadamente sobre isso, mas nos últimos tempos tenho sentido necessidade de falar abertamente. Talvez sem precisar colocar pingos nos “is”, ou pelo menos não o tempo todo, mas fazendo criar algo dentro da imaginação dos outros.
A imagem mais forte que tenho do meu pai não é, apesar de tudo que eu possa falar, às vezes, e com certa intensidade, a da face mais abrupta. Também não é a mais doce e colorida. Mas é uma imagem de onde não sei tirar a idade: quando meu pai dizia para que entrássemos no carro e minha mãe, já separada há séculos dele, dizia para que eu e minha irmã ficássemos dentro de casa. E eu, o mesmo eu que dizia que não se importava em encontrar meu pai nos finais de semana, abri a porta e fui. Este é o significado do sono do Fauno para mim e isto é o suficiente por hoje.
Um grande abraço no pescoço - e derrubando!
e-mail para a querida Ninoca
quinta-feira, 21 de junho de 2007
Nas manhãs e nas tardes que passo andando
Quando penso em você, distante na Geografia que não conheces, penso em como nós dois poderíamos estar juntos se estivéssemos com as costas estendidas nos ladrinhos da cozinha. Sentindo o frio pelos objetos do chão, sei que toca Sometimes (My Bloody Valentine) num som que puseste no quarto, ou talvez na sala, ou em qualquer local distante, mas dentro deste universo imaginário que criamos para nós.
A música vai nos guiando pelos ecos e paredes por onde saiu tocando, percebo que é mais agradável assim do que possuirmos tomadas por toda parte da casa. Sem palavras, olhamos para o teto branco corrigindo-o com os olhos, a direção que a pá do pedreiro fez arrumando o cimento parece transparente e a parede já não parece tão branca.
Calados, sem precisarmos de mais palavras do que isto, não passaremos momentos mais confusos do que foi este dia, ou outro que passou amontoado. Eu poderia dar uma tragada neste momento mas não sei se devo invadir ainda mais o ar. - Felizes são os que vivem à distância sem se importar com isso.
publicado como depoimento de Orkut para a querida Cecília
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