quarta-feira, 21 de maio de 2008

Carta a uma jovem aguerrida


Sede corajosa, avança sobre o teu próprio caminho, teria um beijo haver com o deslize, mas um estado tão duradouro quanto o "ficar" terá alguma razão com um "acidente"? Decerto que não, quem "fica" justifica-se com espantos, mas não haverá qualquer coisa anterior, como o preparo ou a percepção de que o ato está próximo?

Há bem mais vontade em nossos corpos do que supõe o nosso bom-mocismo, porque aquele é anterior a permanência deste. Ainda que seja a consciência quem define o certo e errado, não contrariamente ao interdito se encontra o corpo. Aprisionado em si o que ele fará? Muito. O que fará você para silenciá-lo? Dará uma matriz social para que ele se comporte? Duvido que ele se silencie. Dela somente pode se alimentar para saciar o desejo para, após, ser emudecido pela culpa.

Libera tuas sensações, desenha com as pontas dos dedos os pensamentos. Tenha certeza de que eles já se encontram demasiados fartos de tanta pureza. Só mesmo quem deseja abrigar-se, ou usar-te, poderá fugir para este teu encanto. Quão triste! a paragem quando não é encruzilhada de caminhos é sombria, pessimista e cristã.

Libera-te da tua cruz, do teu lar, das tuas certezas mais pequenas. Toma meu conselho e estas palavras como bagagem: segue adiante! Já perdeste muito no repouso de teu vale escuro. E olha que não houve neste templo, sequer ladrões! Sequer ladrões! Gastaste teu ouro com a tua segurança e o que ela te trouxe? Vazio. Indeterminação.

Determina-te, sede corajosa como era há pouco! Joga-te no abismo sem receio! Onde estará o teu aventureiro, colocaste um espião contra ele? Quem é que te controla: tua consciência ou tu mesma? O mundo regido por fantasmas é ainda mais triste do que aquele onde quem reina é o sofrimento. Avante, sede tu mesma a aventura!


Carta escrita à Juliana Diógenes
em 21 de Maio de 2008.